Plinio Corrêa de Oliveira Santa Maria Goretti, mártir da pureza Nexo entre nudismo e anarquia Santo do Dia, 6 de junho de 1965 | |
Hoje é dia de Santa Maria Goretti, virgem e mártir; morreu por amor à pureza e sua relíquia se venera em nossa capela; século XX. Muita coisa haveria para se dizer a respeito da festa de Santa Maria Goretti. São coisas evidentes e que, portanto, não se prestam a um comentário muito extenso. Mas o contraste entre os acontecimentos dolorosos no terreno da pureza que se verificam em nossos dias, de um lado e, de outro lado, o exemplo que Santa Maria Goretti nos deu, é um contraste tão flagrante que não podemos deixar de fazer uma referência a isso no dia de hoje. Basta lembrarmos que, enquanto a Igreja venera no dia de hoje uma santa que, ainda na infância, sacrificou sua vida por amor à pureza, vítima de um atentado brutal, bárbaro, bestial, estamos numa época em que se introduz o costume escandaloso do chamado monoquini. E que o traje já tão obsceno do biquini – obsceno a tal ponto que não mereceria ser mencionado num ambiente como esse – e que depois conduzirá a mais um passo, porque a degradação só pára quando chega ao último ponto do possível, não se detém a não ser quando já tenha destruído tudo aquilo que tende a destruir, quando ela chegar ao último passo esse será o do nudismo mais anarquista e mais completo. A contradição entre essas duas situações é muito grande. Nessa contradição já vemos um elemento fator de meditação poderosa, para darmos glória à Igreja que continua, no meio da degradação do mundo de hoje, a apresentar aos homens um modelo que é de tal maneira contrário àquilo para que o mundo contemporâneo tende.Mas, de outro lado, nisso há um fator de tristeza. Porque se a Igreja, Santa, Católica, Apostólica, Romana, no seu calendário de hoje, nos manda venerar essa santa, a indiferença de inúmeros católicos ante essa degradação moral progressiva. Vemos então, fatos que bradam ao Céu e clamam a Deus por vingança. Mas, de outro lado, a Santa Igreja, fixa, perene, indestrutível pela solidez e pelo caráter inabalável do elemento divino. De maneira tal que isso é para nós uma fonte de alegria, uma fonte de consolação, uma inspiração para a luta por esses valores, por maior que seja a desolação que possa reinar em certos meios católicos a respeito desse assunto. Santa Maria Goretti se nos apresenta como um incitamento à fidelidade à doutrina tradicional da Igreja, ao zelo da Igreja pela pureza, ao valor que a Igreja sempre inculcou que a pureza possui, de tal maneira que mais vale a pena ao homem perder sua vida do que sacrificar sua pureza. Devemos compreender que é sobrenatural a virtude de uma Santa Maria Goretti, e nos deve levar a fazer considerações de caráter sobrenatural também, compreendendo que toda desolação do mundo de hoje pode ser dominada e transformada em motivo de alegria pela ação do sobrenatural. De maneira que não devemos desanimar na luta.Devemos nos lembrar que a pureza foi restabelecida e elevada a um grau até então desconhecido no mundo antigo, pelo fato de que se introduziu a Religião Católica entre os romanos. A Religião Católica continua sempre a mesma e o precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Eucaristia, pode ser chamada em nossos dias, como era chamada no passado, o “vinho que gera virgens”. Portanto, temos entre nós o fermento de todas as vitórias e a causa de todos os sucessos. É só termos fé, piedade, sabermos rezar, sabermos fazer penitência, sabermos fazer reparação por aqueles que pecam, que conseguiremos vencer essa onda imensa de impiedade que há no mundo contemporâneo. Eu gostaria de acentuar um ponto. Em toda essa questão social de que tanto se fala, o problema da pureza ocupa um lugar preponderante. Não pode haver ordem social verdadeira sem ordem familiar verdadeira; e não pode haver ordem familiar verdadeira sem a virtude cujo nome enche os homens de respeito humano, sem que essa virtude seja praticada pelos católicos até à última perfeição, e praticada por ser conhecida e admirada como tal. É a virtude sobre a qual pouco se ousa falar e que é a virtude da castidade conforme o estado da pessoa: a castidade perfeita, ou a castidade matrimonial. Duas formas santas de virtude, que precisam ser adotadas e defendidas. A ordem política e a ordem social ruem inevitavelmente nos ambientes onde a virtude da pureza não é observada. Não há luta anticomunista, não há preservação da ordem política e social, não há construção da Civilização Cristã que se possa fazer seriamente sem que, entre outras virtudes, a virtude da pureza esteja na base, virtude que Santa Maria Goretti nos deu um tal exemplo. Podemos ter isto bem em vista considerando o tema lamentável e obsceno do nudismo. Os senhores estão vendo como a sociedade contemporânea caminha para o nudismo. Esse caminho para o nudismo é visado pelos anarquistas. Estes últimos realizam, na Europa, reuniões de nudismo completo, porque sua luta não é apenas para a abolição de toda forma de autoridade, mas também para a abolição de toda forma de pudor e, portanto, de toda forma de trajes. Essas são coisas que se imbricam, que constituem um todo na ordem da destruição completa. É doloroso comentar, mas há um ano ou dois realizou-se na Inglaterra um congresso de anarquistas. Esse congresso realizou-se num castelo alugado pelo centro anarquista inglês – castelo esse pertencente a um dos duques ingleses – e todo esse congresso foi feito, os homens e mulheres completamente nus. Vê-se, portanto, que nossa sociedade, antes mesmo de adotar as ideias anárquicas, vai infelizmente caminhando para essas ideias por meio dos costumes anárquicos. Há um princípio muito verdadeiro, que é o seguinte: quando o homem não age de acordo com suas ideias, acaba pensando de acordo com seus atos. O mundo contemporâneo desliza assim para o anarquismo. Ao lado da consideração de Santa Maria Goretti, acho importante uma outra reflexão: um Bispo conhecido, um Frei carmelita e outros padres com quem tenho conversado, dizem-me que é um sintoma doloroso da degradação do século a dificuldade que há para que os penitentes, no confessionário, de fato peçam perdão pelos seus pecados; para que digam que fizeram mal em pecar, batam no peito e peçam perdão. A contrição, a atrição, o propósito de não pecar seriamente, que é o elemento fundamental para que o sacramento da penitência seja bem-sucedido, isso são coisas que passaram a ser tidas como secundárias…! Nesse sentido, o caso de Santa Maria Goretti nos oferece um bonito exemplo. Ela serve para ser nossa patrona, para nos preservar na virtude da pureza, como também se tivermos a desgraça de nos afastarmos desse caminho, para nos reconduzir a uma verdadeira penitência em matéria de pureza. Ela não é só a padroeira dos que nunca pecaram contra a castidade, mas também é a padroeira dos que pecaram, para os reconduzir a uma verdadeira e sincera conversão. Pedir a Santa Maria Goretti que nos dê essa preservação e nos dê essa contrição é algo altamente oportuno no dia de hoje. Tanto mais oportuna que, se ela chegou a perdoar ao homem que a matou e conseguiu para um tipo tão depravado uma forma tão alta de virtude que chegou a se tornar um irmão leigo de um Ordem religiosa (quando o progressismo não tinha penetrado no recinto da Santa Igreja…), quem pode o mais, pode o menos, e podemos compreender aí quanta confiança podemos depositar em sua intercessão! Canonização de Santa Maria Goretti, pelo Papa Pio XII (Basílica de São Pedro, 29 de junho de 1950) A D V E R T Ê N C I A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959. |