SÃO DOMINGOS DE SILOS

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São Domingos de Silos entronizado como bispo – Bartolomé Bermejo, séc. XV. Museu do Prado, Madri.

Grande taumaturgo do século XI, foi conselheiro de bispos e reis. Reformou o mosteiro de São Sebastião, um dos mais famosos da Espanha medieval. Sua festa litúrgica é celebrada neste dia 20 de dezembro.

Natural de Cañas, em La Rioja (Espanha), Domingos nasceu pelo ano 1000. Quando pequeno, apascentava o gado do pai e era muito caridoso. Muitas vezes oferecia leite das ovelhas para andarilhos pobres que passavam pela região.

Ele amava os estudos, e seus pais o confiaram ao pároco local, cuja escola ficava ao lado da igreja, e nela fez os estudos que lhe permitiram seguir a carreira sacerdotal. Aos 26 anos, foi ordenado sacerdote pelo bispo de Nájera.

Esmoleiro, mestre de obras, beneditino

Domingos sentia o atrativo da vida monástica, então em seu apogeu. Porém, antes de entrar num mosteiro, quis experimentar a vida eremítica, praticando a oração e penitências na solidão durante 18 meses. Depois dessa experiência, decidiu ingressar no mosteiro beneditino de Santo Emiliano de la Cogolla.

Muito dotado, logo se tornou mestre dos jovens que estudavam no mosteiro. Confiaram-lhe depois a reforma do priorato de Santa Maria de Cañas em sua cidade natal, passando ele um ano com a família. Para cumprir tal missão, teve que tornar-se esmoleiro para conseguir os recursos necessários à obra. Nela também trabalhou como pedreiro e mestre de obras, fazendo todo o possível para reconstruir o mosteiro arruinado a fim de receber novos candidatos à vida religiosa beneditina. Depois de terminada a obra, sua maior surpresa e alegria foi ver entre os candidatos à vida religiosa seu próprio pai e alguns outros parentes.

Voltando para Santo Emiliano, foi nomeado prior pelo abade Garcia, em 1038. Depois tornou-se abade do mosteiro.

Deposição abusiva e exílio

Depois de ser desterrado por Dom Garcia Sanchez III, rei da Navarra (acima), São Domingos é acolhido pelo rei de Castela e Aragão, Fernando I, o Magno, que o recebeu em seu palácio (quadro abaixo).

Na muito conturbada época de São Domingos, estava-se em plena Reconquista espanhola, e todos os príncipes espanhóis lutavam para retomar as terras sob domínio dos muçulmanos.

Grande parte do esforço de guerra era bancado pelos mosteiros e igrejas, por vezes muito ricos devido às doações de príncipes e nobres. No ano de 1030, Dom Garcia Sanchez III, rei da Navarra, exigiu os tesouros do mosteiro de Santo Emiliano para manter sua guerra. Alegava para isso que a maior parte deles havia sido dada pelos seus antepassados. Os monges estavam dispostos a ceder, mas o santo abade deu uma recusa – humilde, mas categórica – que contrariou muito o príncipe. Foi tão grande sua cólera, que obrigou os monges a deporem o abade, e o desterrou do reino de Navarra.

Fernando I de Castela acolhe São Domingos de Silos – Bartolomé Bermejo, séc. XV. Museu do Prado, Madri

Domingos exilou-se em Burgos, capital de Castela. Por seus dotes intelectuais e de reformador, atraiu logo as simpatias do bispo local e do rei de Castela e Aragão, Fernando I, o Magno (1035-1065), que o recebeu em seu palácio. Mas o santo preferiu retirar-se para um eremitério fora da cidade.

O monarca, querendo servir-se desse grande talento para o bem da Igreja, no dia 14 de janeiro de 1041 propôs a Domingos que assumisse a reforma do mosteiro de São Sebastião de Silos, em lastimável estado.

Origens de São Sebastião de Silos

O mosteiro remontava à época visigótica (século VII), mas quase desaparecera com a ocupação muçulmana. No século X, quando o conde Fernán González governava Castela, o mosteiro conheceu novo esplendor, antes de cair novamente em decadência durante as invasões de Almazor. Quando São Domingos assumiu sua direção, a casa abrigava apenas seis monges e estava em péssima situação espiritual e financeira.

Um dos problemas mais dolorosos na Península Ibérica, quando parcialmente ocupada pelos árabes, eram os cristãos que gemiam sob seu jugo. Quase todos os santos espanhóis do período dedicaram muito de seu trabalho e energia ao resgate dos escravos cristãos. Com sua vigorosa disposição, Domingos se notabilizou pelos benefícios prestados aos cristãos prisioneiros dos muçulmanos, além de restaurar a vida monástica.

Vista do Mosteiro de São Domingos de Silos

Restaurando uma joia da arte românica

A igreja românica do mosteiro e o resto das dependências monacais foram reerguidas pelo santo. O claustro foi edificado após sua morte, e perdura como uma joia da arte românica. A abadia reconstruída existe ainda hoje, e é considerada um dos grandes tesouros da arquitetura espanhola.

Domingos organizou também o scriptorium, ou sala dos copistas, onde se criou uma das mais completas e ricas bibliotecas da Espanha medieval. Reuniu grande número de escritos visigóticos, e conseguiu que alguns monges se tornassem bons letrados para estudá-los. A imprensa não havia ainda sido fundada, e os livros eram manuscritos. Foi de fundamental importância o papel dos copistas dos mosteiros, que deixaram para a posteridade todo o acervo cultural dos tempos antigos e medievais.

Em pouco tempo o mosteiro se tornou renomado pelos livros, pela arte das iluminuras e pelos trabalhos em prata, além de importante centro espiritual. Multiplicou-se rapidamente o número de monges, exigindo a ampliação da casa para abrigá-los.

São Domingos tinha cuidado especial com os pobres, socorrendo-os em todas as suas necessidades. Ensinava também aos camponeses a agricultura e ofícios vários.

Três coroas oferecidas por um anjo

         Domingos restabeleceu o louvor divino diurno e noturno. Seu contemporâneo Grimaldo, também monge de Silos, afirma que um anjo, para animar o santo, prometeu-lhe em sonhos três coroas: uma por ter abandonado o mundo perverso e se ter encaminhado para a vida perfeita; outra por ter construído Santa Maria de Cañas e ter observado a castidade perfeita; e a terceira pela restauração do mosteiro de Silos.

De fato, esta última coroa se realizou perfeitamente, pois durante os 30 anos em que São Domingos foi abade do mosteiro de São Sebastião de Silos, este se tornou centro de cultura e cenáculo de evangelização para a Igreja e o mundo. Aos poucos o Abade tornou-se grande taumaturgo e um dos homens mais populares da Espanha.

Outro Domingos, também santo

Naquele tempo vivia na Espanha outro Domingos, eremita muito preocupado com os peregrinos. Estes se deslocavam por caminhos cheios de acidentes, a fim de visitar o célebre santuário de Santiago de Compostela. Uma das grandes dificuldades era atravessar o rio Oja, e ele construiu uma ponte sobre o rio e uma ladeira para facilitar o deslocamento dos peregrinos. Daí lhe veio o nome com que ficou na história: São Domingos da Calçada, sendo festejado no dia 12 de maio.

O primeiro Domingos encorajou muito este segundo em sua obra, demonstrando assim que o trabalho dos monges tem também grande valor social.

Frontal da sepultura de São Domingos de Silos

Morte e glorificação, respeitado por reis e rainhas

O abade de Silos morreu no dia 20 de dezembro de 1073, entre seus numerosos filhos espirituais, assistido pelo bispo de Burgos. Foi sepultado no claustro do seu mosteiro. Multiplicando-se os milagres por sua intercessão, o mesmo bispo transferiu o corpo para a igreja do mosteiro de São Sebastião, que foi perdendo seu nome e acabou adotando o de São Domingos.

Muito amado pelo povo e respeitado por reis e rainhas, São Domingos operou em vida muitos milagres, e prosseguiu depois da morte, daí ser chamado ‘Taumaturgo do século X’.

A popularidade adquirida pelo santo foi tão ampla, que depois de sua morte foi inscrito seu nome ao lado de Cid Campeador, o famoso herói da Espanha medieval. Também o primeiro poeta castelhano de nome conhecido, Gonzalo de Berceo, traçou sua biografia na Vida de Santo Domingo de Silos, escrita no século XIII.

O nome de Domingos identifica cerca de cinquenta igrejas na Espanha. As regiões meridionais honravam-no especialmente por causa dos cativos libertos. As futuras mães invocavam-no para terem bom parto. Quando uma rainha da Espanha estava prestes a ser mãe, o abade de Silos levava para o palácio real o báculo de São Domingos, e esta relíquia lá permanecia até se dar o feliz nascimento.

Por volta de 1170, a beata Joana Aza de Gusmão foi rezar em Silos, para ter um bom parto, e depois deu o nome do santo protetor ao filho que lhe nasceu – Domingos de Gusmão, fundador dos Padres Dominicanos.

Até hoje os monges de São Domingos de Silos estão entre os melhores intérpretes do canto gregoriano em todo o mundo.

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Fontes consultadas:

– http://www.santiebeati.it/dettaglio/90512

– https://santo.cancaonova.com/santo/sao-domingos-de-silos-sacerdote/

– https://cruzterrasanta.com.br/historia-de-sao-domingos-de-silos/426/102/

– https://es.wikipedia.org/wiki/Monasterio_de_Santo_Domingo_de_Silos

– https://www.biografiasyvidas.com/biografia/d/domingo_de_silos.htm

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