São Leão IX, modelo de Papa combativo (I)

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Plinio Corrêa de Oliveira

         “Eu tomei como tema uma ficha que está bem-feita, mas de uma biografia não bem-feita, de um grande Papa, que é São Leão IX, Papa.

          

Os dados essenciais que a ficha apresenta são os seguintes: “São Leão IX nasceu no ano de 1002…”

Como os srs. estão vendo, em plena Idade Média.

Acesse o áudio aqui https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Mult_741029_Papa_Sao_Leao9.htm#.YHzSomdKiMo

                     “…nos confins da Alsácia. Seu pai era conde Igenhein e primo-irmão do Imperador Conrado, o Sálico. Sua mãe lhe deu o nome de Bruno. Com atingiu idade de 5 anos foi confiado, pelos pais, à educação do venerável Bispo de Toul, Bertoldo, que dirigia então uma escola no próprio palácio episcopal”.

           É interessante essa nota, essa pequena nota medieval, patriarcal, de uma escola episcopal funcionando no próprio palácio do Bispo, e dirigida pelo Bispo.

           “Bruno foi confiado particularmente, no colégio, a um seu primo, chamado Aderico, que era filho do príncipe de Luxemburgo. Os dois se tomaram de uma íntima amizade. Esse filho do príncipe de Luxemburgo era modelo de todas as virtudes e serviu extraordinariamente para formar Bruno”.

           Aí os senhores veem mais uma vez a procedência da observação que eu lhes fiz no Santo do Dia do sábado passado: pessoas da Idade Média, pertencentes à mais alta categoria social, e se destacando, entretanto pela sua virtude extraordinária; essa aliança entre a grandeza terrena e o serviço de Deus, que é tão diverso de nossa época, em que quanto mais se sobe, mais se nota que as pessoas estão ao serviço da causa da Revolução e não da causa da Contra-Revolução.

           “O bispo de Toul lhe conferiu as sagradas ordens e pouco depois Bruno foi ser clérigo na capela imperial do palácio do Imperador Conrado, o Sálico”.

           Todos os imperadores tinham a sua capela. O que vem a ser propriamente a capela do Imperador? Era o conjunto dos capelães que asseguravam o culto na capela pessoal do Imperador. Era, portanto, uma situação de alta confiança, porque dava oportunidade de certo contato com o Imperador.

           Daí os srs. veem outra coisa: primeiro, um imperador que tem, portanto, uma capela própria, que tem como elemento de sua vida e de sua corte o Ofício Divino colocado no centro: a Missa, o Ofício etc. Por quê? Por causa da convicção profundamente radicada naquele tempo, e verdadeira, única e verdadeira, de que a Igreja Católica é o centro de todas as coisas. Portanto, na Corte imperial o elemento central tinha que ser a capela, onde está o Rei dos reis; quer dizer, está o Santíssimo Sacramento, realmente presente Nosso Senhor Jesus Cristo. Onde se cultua Nossa Senhora com o culto de hiperdulia etc. Tão diferente também dos grandes da terra hoje em dia, tão laicos, tão separados de tudo quanto é verdadeiramente a posição católica.

           “Nessa capela Bruno é imediatamente bem-visto pelo Imperador, que se impressiona com as virtudes dele e começa a tratá-lo de ‘meu sobrinho’.”

           Era uma honra extraordinária nas Cortes antigas o indivíduo ser tratado de primo ou de sobrinho do rei.  Ele de fato era parente do rei, mas não num grau tão próximo. Era filho de primos do rei e não filho de irmãos. Não era sobrinho. O imperador tratando-o de sobrinho como que o elevava à categoria de príncipe da Casa Imperial. E a razão dessa honraria era a virtude dele.

           Os srs. estão vendo mais uma vez, o que eu dizia aos senhores no sábado passado, a Idade Média uma época em que a posse generalizada – não digo para cada um, mas generalizada – do estado de graça na maior parte das pessoas criava um ambiente onde a virtude era bem-vista, e não era um título para perseguição, mas era um título para ascensão, um título para a pessoa ter facilidade de exercer sua influência. Ao contrário de hoje em dia, em que a virtude atrai toda espécie de ódios e cerceia a influência que a pessoa quer exercer.

           “Algum tempo depois, no ano de 1026, o Imperador recebeu a visita de clérigos da diocese de Toul, de onde tinha sido originário Bruno, anunciando-lhe que o Bispo tinha morrido e que a população inteira pedia para ser designado, para a diocese vaga, a Bruno.

           “Conrado cedeu, se bem que Bruno não tivesse ainda a idade canônica”.

           Esses são costumes do direito Canônico medieval, que devemos entender o que quer dizer. A nomeação de um bispo nunca deixou de ser privilégio exclusivo do Papa. Mas o Papa pode receber indicações, que ele é livre de aceitar ou recusar, para tal ou tal diocese. Na Idade Média se estabeleceu com frequência – aliás, isso vinha já dos primeiros tempos da Cristandade – que o povo da diocese podia aclamar, ou podia propor um nome para o Papa aceitar ou não.

           Com o estabelecimento do Sacro Império, os imperadores tomaram hábito também de proporem bispos ao papa. Então, o povo propunha ao imperador um nome e este, se estava de acordo, propunha ao Papa; se o papa estava de acordo, nomeava Bispo. O imperador aceitou que Bruno fosse indicado e de fato, ele foi nomeado Bispo pela Santa Sé.

           Embora ele não tivesse a idade suficiente – os srs. estão, portanto, vendo a rapidez dessa carreira, dessa ascensão.

           “Ele imediatamente se destacou entre os bispos da região pela sua capacidade e pela virtude com que ele dirigia a diocese. Passam-se os anos. Isso se deu em 1026.

           “Durante 22 anos Bruno governou pacificamente e com brilho a Diocese de Toul. No ano de 1048 morreu o para Dâmaso II e os romanos mandaram uma deputação ao imperador Henrique III para lhe pedir para designar um novo papa. Henrique III reuniu, para esse efeito, uma Dieta…”

           Quer dizer, um conjunto de Bispos.

           “…em Worms, em que participavam todos os bispos do Império. Assim que a Dieta se reuniu, todas as vozes designaram Bruno, Bispo de Toul, como sendo futuro para. Ele foi consultado. Mas ele não queria ser papa de nenhum modo, por humildade e pediu alguns dias para refletir”.”

Continuaremos, na próxima edição, o período de São Leão no Sólio Pontifício.

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Texto extraído da gravação de conferência do Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revisto pelo autor.

(*) Advertência:

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução”, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

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