Continuação do post anterior: Reis monges à frente de exércitos: São Sigiberto, rei da Inglaterra
“Os bretões também tiveram em Teodorico um rei soldado e monge, valente soberano cambriano, invencível em todos os combates. Depois abdicou seu trono para se preparar para a morte pela penitência, e escondeu-se numa ilha.
“Mas no governo de seu filho, os saxões do Wessex atravessaram a Savernia, região que lhes servia de limite.
“Aos gritos de seu povo, o generoso velho deixou a solidão onde vivia há dez anos e conduziu de novo os cristãos da Cumbria em luta contra os pagãos saxões. Uma vitória estrondosa foi o preço de seu generoso devotamento.
“A vista do velho rei coberto com sua armadura, montado em seu cavalo de guerra, o pânico apoderou-se dos saxões há muito habituados a fugir dele.
“Mas, em meio à fuga, um bárbaro inimigo voltou-se bruscamente e feriu o rei mortalmente. Assim ele pereceu no meio da vitória”.(Fonte: Charles Forbes René, conde de Montalembert, “Les Moines d’Occident”, Ed. Lecoffre, 1867, 505 páginas, 4 vol.).
Comentários do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
Montalembert apresenta o exemplo de um outro rei também santo que se tornou monge. Esse rei de outra parte da Inglaterra teve um destino diferente.
Ele quis ser monge, mas foi procurado pelos seus para os defender.
Bastou ele aparecer todo revestido de sua armadura à frente dos combatentes, que os adversários já começaram a fugir. Ele obteve uma vitória estrondosa.
Os senhores vejam que bonita figura a desse monge armado dos pés à cabeça, brandindo sua espada e na frente dos seus guerreiros, partindo para a carga de cavalaria, ele, o monge, e o terror de todo mundo.
O! voltou o rei, o rei fatal, o rei invencível, o rei coberto de glória surgiu.
É ele que ordena o ataque de cavalaria e dizima todos. Ele morre como morreram tantos heróis medievais num crepúsculo de vitória.
Ele ganhou, mas enquanto o adversário dava os últimos golpes para se defender, ele foi atingido. Ele morreu e o sangue dele derramado no campo de batalha coroou bem a sua dupla carreira de rei e de monge.
Dois exemplos que mostram o que deve ser um rei, um guerreiro e um monge. O rei perfeito, na observância de sua condição de rei deve tem muito de monge e de guerreiro.
Por outro lado, o monge deve ter algo de régio e algo de combatente na alma. Também, o verdadeiro combatente lucra em ter algo de monge e algo de régio na alma.
Isso é tão diferente do monge sedentário, pacato, incapaz de luta, cuja figura, nos séculos de decadência, se fixou diante de olhos de muitos.
Exemplo de um monge que reuniu essas qualidades no século XIX foi o restaurador da ordem beneditina Dom Guéranger, abade de Solesmes.
É um olhar de fogo, porte de guerreiro, uma independência de rei. Nele as três condições se interpenetram e constituem um só todo.
O estado monacal é tão alto, que todo mundo que se eleva muito nas vias da espiritualidade católica, quando toca nesse alto, tende a ter algo de religioso. E quando não se fazem religiosos, entram para as Ordens Terceiras, que são uma participação do estado religioso.
Foi o caso, entre muitos outros, de São Luís IX rei de França e membro da Ordem Terceira de São Francisco.
Mas é próprio também ao estado religioso, que quando alguém entra nele, se sublime a si próprio, em vez de perder as qualidades que tinha.
Um artista, um pensador, um rei, um guerreiro que fica religioso, fica arqui-artista, arqui-pensador, arqui-guerreiro ou arqui-rei. A magnificência de tudo isso está no estado religioso.