Com esse enfoque, a Sra. Mercedes Castellanos de Anchorena mandou erigir a monumental Basílica do Santíssimo Sacramento, uma das mais belas igrejas de Buenos Aires. A nobre dama portenha é uma das três Condessas Pontifícias argentinas, título honorífico concedido pelo Papa.
O Papa Pio XII, em Alocução ao Patriciado e à Nobreza Romana, os conclamava a que “em tudo o que for serviço do próximo, da sociedade, da Igreja, de Deus, deveis ser sempre os primeiros. Nisto consiste o vosso verdadeiro ponto de honra, nisto está a vossa mais nobre precedência. […] Presteza na ação: na grande solidariedade pessoal e social, deve cada qual estar pronto a trabalhar, a sacrificar-se e a consagrar-se ao bem de todos. Não é bem verdade que os que dispõem de mais tempo e meios mais abundantes devem ser os mais assíduos e mais solícitos em servir?” 1
Comentando as palavras do Sumo Pontífice, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em sua magistral obra Nobreza e Elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à nobreza romana, afirma: “Estas últimas palavras mostram que o Pontífice não admite uma nobreza ou uma elite tradicional que não seja efetiva e abnegadamente apostólica. A nobreza que viva para o lucro e não para a Fé, sem ideais, aburguesada (no sentido pejorativo atribuído por vezes a esta palavra) é um cadáver de nobreza”.2
Quem foi a Condesa Pontificia María Luisa de las Mercedes Castellanos? [foto acima].
Nascida em Rosario, provincia de Santa Fe, em 24 de setembro de 1840, e falecida em Buenos Aires no dia 9 de julho de 1920, foi casada com Nicolás Hugo de Anchorena Arana, falecido em 1884, com quem teve 10 filhos.
A jovem viúva María Luisa destacava-se na aristocracia argentina, na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, por sua fervorosa catolicidade.
Após viagem a Paris, onde esteve na Basílica do Santíssimo Sacramento, como ela havia herdado, entre outros bens, um terreno do outro lado da praça onde estava o palácio de sua família, no bairro Retiro, deliberou erigir ali uma das mais belas, luxuosas e monumentais igrejas de Buenos Aires: a Basílica do Santíssimo Sacramento [fotos abaixo].
Mármores, mosaicos venezianos e ouro francês foi aplicado na Basílica do Santíssimo Sacramento, pois, para Deus, o melhor. A pedra fundamental foi colocada no dia 25 de março de 1908. O primeiro esboço do Palácio para o Santíssimo Sacramento foi idealizado pelo sacerdote francês Antoine Seignon, sacramentino, que sugeriu à Sra. Mercedes Castellanos que a idealização e construção ficassem aos cuidados dos arquitetos franceses Alfred Coulomb e Louis Pierre Léopard Chauvet.
O arquiteto salesiano Ernesto Vespignani dirigiu a monumental edificação. Após oito anos de obras, no dia 15 de julho de 1916 a igreja foi consagrada pelo Arcebispo Mariano Antonio Espinosa. Em novembro desse ano, o Papa Bento XV a elevou à categoria de Basílica Menor. Seu centenário foi celebrado três anos atrás.
A exemplar aristocrata argentina também doou o mármore para o altar da imagem do Senhor do Milagre, na Catedral de Salta, bem como parte das instalações do Seminário de Buenos Aires, inaugurado em 1897 pelo Arcebispo Uladislao Castellano com a presença do Presidente da República, José Evaristo Uriburu. Sua benemerência se estendeu também a jovens do interior aptos a serem admitidos pelo Colégio Pio Latino, em Roma.
Por seus apostólicos atos, a Santa Sé concedeu à nobre Sra. Mercedes Castellanos de Anchorena o título de Condessa Pontifícia, condecorando-a com a honra de Dama da Rosa de Ouro.
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira pergunta em sua mencionada obra: Qual a função da elite na sociedade? “Cabe à nobreza e às elites tradicionais desempenhar a função de guia da sociedade, realizando assim um luminoso apostolado”.5
O Papa Pio XII, em sua Alocução, ensinava: “Uma elite? Tendes atrás de vós todo um passado de tradições seculares, que representam valores fundamentais para a sadia vida de um povo. Entre essas tradições, das quais a justo título se ufanais, contais em primeiro lugar a religiosidade, a Fé católica viva e operante. A História já não provou porventura, e cruelmente que qualquer sociedade humana sem base religiosa corre fatalmente para a sua dissolução, ou termina no horror?”6
Que o exemplo dessa nobre aristocrata argentina sirva de inspiração para as atuais elites do querido país vizinho e de todos os demais.
Notas:
1. Nobreza e Elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à nobreza romana, Livraria Civilização-Editora, Porto, Portugal, 1994, p. 88.
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Id., ib., p. 89.
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https://www.clarin.com/ciudades/palacio-brilla-retiro_0_41nwBhd-W.html
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Genealogía Familiar (2009). “Biografías: Condesa Pontificia María Luisa de las Mercedes Castellanos de la Iglesia”.
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Id. “Nobreza e Elites tradicionais análogas”, p. 90.
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Id., ib., p. 90.