Se não existisse o Inferno, a Terra se transformaria num Inferno

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“O Inferno”. Iluminura do livro “Les Très Riches Heures du duc de Berry” (Atualmente conservado no museu Condé, em Chantilly).
“O Inferno”. Iluminura do livro “Les Très Riches Heures du duc de Berry” (Atualmente conservado no museu Condé, em Chantilly).

Vivemos numa época de ateísmo teórico e prático que se alterna com uma religiosidade dulçurosa e sentimental, e as vezes ambos se confundem. Tanto o ateísmo como a religiosidade sentimental contribuem para a queda da moralidade e a caotização da sociedade.

Isso porque, para o ateísmo, não existe Deus e para a religiosidade sentimental, Ele não castiga. Portanto para ambos não existe um Juiz Supremo de nossas ações, que premia ou castiga, conforme nossas boas ou más ações.

Ora, sem que haja uma punição pela transgressão da lei – em relação a moral a lei de Deus, conhecida pela revelação ou pela lei natural impressa em nossos corações, esta perde seu sentido impositivo.

Mas, uma lei que não implica numa punição, caso seja transgredida, não é verdadeira lei; é apenas uma indicação, uma orientação, que podemos seguir ou não, a nosso bel prazer. A conseqüência disso é que a lei moral deixa de ter sentido, caindo por terra a própria noção de moralidade.

Daí a necessidade de um castigo, para que a lei moral obrigue de tal forma que mantenha vivo o senso moral, sem o qual a vida em sociedade se torna inviável.

Por outro lado, ao se transgredir a lei, ofende-se seu autor; no caso, o próprio Deus, e nisto consiste o pecado.

Embora o pecado já traga consigo uma punição aqui nesta terra, esse castigo tem um caráter medicinal, é uma forma despertar no homem o senso do bem e de abrir sua alma para a graça. Trata-se de um castigo misericordioso.

Uma vez, entretanto, chegado o momento derradeiro, em que a morte corta a possibilidade de uma volta atrás, se o homem rejeitar a derradeira graça e expirar no estado de revolta contra Deus, ele sela seu destino eterno. A misericórdia cede então o lugar à justiça divina, a qual aplaca a Majestade divina ofendida condenando o pecador impenitente ao inferno para sempre.

Estas verdades, que são confirmadas pelas Escrituras,[1] são de difícil compreensão para o homem moderno, que perdeu quase por completo a noção da justiça.

Se Deus não fosse justo, ele não seria perfeito e, portanto, não seria Deus. Por isso o profeta David exclama: “O Senhor é justo e ama a justiça” (Salmo 10:7). Por isso Ele não pode deixar que a ofensa feita à sua Divina Majestade fique impune.

Mas, pode-se objetar, Deus não é misericordioso, não deseja que o pecador se converta e se salve? (cf. Ezequiel 33:11).

Sim, e foi por isso que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu sua paixão e morte dolorosíssima; foi por isso que Ele fundou a sua Igreja e instituiu os sacramentos para nos comunicar sua graça e, em especial a Confissão, para perdoar nossos pecados arrependidos com o propósito de emenda.

Por sua misericórdia também Deus é paciente à espera de nossa conversão: “Senhor é compassivo e misericordioso: paciente e cheio de misericórdia” (Psalm 103:8).

Não se pode conceber, entretanto, a misericórdia como se ela aniquilasse a justiça como se Deus não se importasse com as ofensas, como um Buda insensível a nossas obras: “Dizer que Deus não pode sofrer é uma coisa, dizer que Deus é indiferente ao mal, é outra. A resposta de Deus face ao mal não é o sofrimento, mas a cólera, isto é, sua oposição ao mal.”[2]

Essa cólera divina, que não é separável de seu e misericórdia – por  mais  terrível que  seja o castigo  do inferno, ele ainda deveria  ser maior – era bem compreendida nos tempos  em  que havia  fé viva.

Por exemplo, o poeta Dante Alighiere (+ 1321), em sua imortal obra “A Divina Comédia” pôs os  seguintes dizeres na porta do Inferno:

“Por mim se  entra no reino das dores;

“por  mim se chega ao padecer eterno;

“por mim se vai à condenada  gente.

Por amor à justiça, criou-me o Poder  que tudo pode;

“pois  que sou obra da Suma Sabedoria e do  Amor Supremo. (Cant. III)

Eliminada, no entanto, a ideia de um castigo eterno, da existência do Inferno, como foi dito, se destrói a reverência pela lei divina, caindo-se no completo amoralismo. E o resultado é que os homens se transformam em feras, dando vazão a todos os seus caprichos, ambições e cóleras.

A vida em sociedade se degrada e, dessa forma, a frase absurda do filósofo existencialista francês Jean-Paul Sartre, de que “o inferno são os outros,” toma sentido, pois o mundo se transforma num verdadeiro Inferno.

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[1] Cf. por  exemplo, Isaias 66:24; Mat. 25:46; 26:24; Marc. 9:43, 45, 47; João 3:36; Romanos 9:22; 1 Corinthians 6:10; Gálatas 5:21: Apocalipse 14:11; 19:3; 20:10 etc.

[2] Dieu est-il impassible?, http://theopedie.com/Dieu-est-il-impassible.html, retrieved 5/2/15.

6 COMENTÁRIOS

  1. Interessante o texto, mas a divisão entre capítulos e versículos é protestante, a divisão católica não usa dois pontos, mas uma vírgula para separar capítulos e versículos, exemplo: Salmo 10,7.

  2. O INFERNO É CONSEQUÊNCIA E NÃO PUNIÇÃO ETERNA

    O pavor do inferno eterno apavorava os cristãos na Idade Média. O objetivo neste mundo era salvar-se das penas do inferno. Com o inicio da renascença, do iluminismo e da ciência o pavor do inferno para muitos se tornou indignação. Como um Deus que é amor pode punir eternamente sem utilidade meras criaturas? Hoje são muitos entre os cristãos católicos e os protestantes liberais que não creem no inferno. Até admitem uma punição temporária, já que quem faz o mal merece ser punido, mas nunca a eternidade das penas do inferno. Para os ateus e agnósticos o que importa é viver o aqui e agora. O Ateu crer que tudo acaba com a morte e agnóstico não sabe de nada do que acontece após a vida. Interessa-se apenas que pode fazer neste mundo. Por sito se ouve muito dizer que se o mundo acabasse hoje se dariam estes a toda forma de prazer. Um verdadeiro escândalo para o homem medieval.
    Mas o inferno nas Sagradas Escrituras é mostrado apenas como uma punição eterna de um Deus irado para os transgressores de sua lei? Em muitas passagens da Bíblia, Jesus nos apresenta o inferno como consequência do pecado que corrompe nossa natureza de filhos de Deus. O que torna impuro o homem é o que ele produz de sue interior. ( Mt. 15, 10-11) E como nada de impuro entrará na cidade celeste o inferno é simplesmente ficar de fora.(Ap. 21,27; Mt. 8,12) Assim como o sal se tornar-se inútil se perder sua característica de preservar (Mt 5,13) assim o pecador se torna imprestável para a união com Deus. Amar a as trevas e desprezar a luz faz o mesmo ser humano densas trevas.(Mt 6,22) Deste modo a verdadeira forma de entender o inferno não é como uma sentença judicial repugnante à mentalidade moderna. É como uma consequência do pecado que muitas vezes repetido altera o ser humano ao pondo do mesmo não suportar permanecer perante Deus. (Is 33,14-15) E Deus que cria tudo perfeito e sem arrependimento jamais poderia destruir um ser que quis corromper-se. Seria o mesmo que admitir que o livre arbítrio dado aos homens fosse um tremendo erro dele. Por isto, a razão da eternidade desta separação dolorosa da fonte do Amor e felicidade que é a Deus.
    Deus mesmo manifesta a sua misericórdia em permitir que os corrompidos ainda mantenham a existência. Assim como a lenda dos vampiros que mesmo sem suportar a luz do sol, também os pecadores condenados, que se alimentam de seus próprios pecados não podem suportar a própria luz que é Deus, mas não querem voltar ao nada.
    Maior que o inferno é a misericórdia de Deus ao ter nos salvado das penas eternas dos corrompidos ao qual estávamos todos condenados por causa do pecado. Não tínhamos nenhum direito à salvação. (Ef. 2,4) Para isto Deus teve que encarna-se para sofre e morrer a fim de nos libertar das penas ternas do inferno. Há maior prova de amor do que o Ser que livra condenados definitivos de uma perdição eterna sem mérito algum parte destes? É de fé que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu paixão e morte na cruz para nos livrar das penas eternas do inferno. Assim se expressou Santa Joana d´Arc e é esta fé que nos católicos professamos.
    Francisco Silva de Castro
    Cascavel, 02/07/015

  3. Muitos, se não a maioria, não acreditam que nascemos do pó e a pó voltaremos.
    ” Memento homo que pulveris est et pulveris perveteris”
    Dai essa tragédia de desgraças plantadas pelo homem, crimes roubalheiras,mentiras deslavadas em seu benefício que no fim não levará a nada a não ser sofrimento á própria humanidade.
    Se lessem a Biblia muita forma de pensar equacionaria nosso modo de viver melhor.

  4. Jean Paul Sarte esteve em minha cidade (Araraquara-SP)na década de 1950 acompanhando o imoral deputado comunista Jorge Amado. Juntou-se a eles o futuro presidente da república Fernando Henrique Cardosa e sua esposa aqui nascida Dona Ruth.

    FHC e sua esposa levaram a sério em transformar o Brasil num verdadeiro inferno com a Constituição de 1988 e o acordo que FHC fez com Lula levando os comunistas ao poder.

  5. Dizer que o inferno não existe é o mesmo que dizer que Deus não é Justo – o que é uma blasfêmia.
    O artigo acima coloca muito bem a questão.
    NÃO FOI SEM MOTIVO QUE EM FÁTIMA NOSSA SENHORA MOSTROU O INFERNO ÀS CRIANÇAS Lúcia Jacinta e Francisco, e prescreveu a jaculatória entre as dezenas do Rosário; ” Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, e socorrei principalmente as que mais precisarem”.
    “Opportet semper orare et non defícere” –
    É absolutamente necessário rezar sempre, e nunca desfalecer. Disso depende a nossa salvação eterna.

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