Deus, causa exemplar do Universo, é o tema que temos abordado. (1)
Em outras palavras, Deus tendo criado, colocou no Universo seus “vestígios”, na linguagem teológica de São Boaventura.
“A visão de Plinio Corrêa de Oliveira é, como a medieval, “uma grandiosa e nobre concepção do mundo, um grande sistema de símbolos, uma catedral de ideias.”
“Para o homem medieval nada existe sem significado “nihil vacuum neque sine signo apud Deum” e tudo aquilo que existe foi feito de modo a despertar o pensamento e a lembrança de Deus. “Em cada criatura existe o esplendor da causa exemplar divina (…). Assim, cada ser é uma via que conduz ao exemplar, é sinal da sabedoria de Deus”. https://www.pliniocorreadeoliveira.info/Cruzado0411.htm
Sede simples como as pombas e prudentes como as serpentes
O conselho de Nosso Senhor nos fornece mais um exemplo de como o Divino Mestre tirava das coisas criadas as analogias com as virtudes, com as perfeições do Criador. E com isso ensinava e formava os Apóstolos.
“Comenta o Prof. Plinio: “a Sagrada Escritura numerosas vezes apela para seres materiais para nos fazer entender e apreciar realidades espirituais e morais. (…)
De que poder de expressão são para (o homem) os seres inferiores e sobretudo os animais, temos provas no Evangelho. Assim, no seu formoso sermão de missão dos apóstolos, (Mt. 10,16 ), Nosso Senhor nos dá a pomba e a serpente como modelos de duas altas virtudes: a inocência e a prudência.
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A pomba, símbolo da inocência
“Harmoniosa nas linhas, simples no colorido, graciosa nos vôos e nos movimentos, “afável” para com os outros animais, pura e cândida em todo o seu ser, a pomba nada faz que possa sugerir a idéia de rapina, de agressão, de injustiça, de intemperança, de impureza. É pois muito adequadamente que na linguagem do Salvador é símbolo da inocência.
“Mas algo lhe falta: as aptidões pelas quais um ser assegura sua sobrevivência, na luta contra os fatores adversos. Sua perspicácia é mínima, sua combatividade nula, sua única defesa consiste na fuga. E por isto o próprio Espírito Santo nos fala em “pombas imbecis, sem inteligência!” ( Ozeas 7, 11 ).
“O que nos faz lembrar certos católicos deformados pelo romantismo, para os quais a virtude consiste só e sempre em apagar-se, em baixar a cabeça, em levar pancada, em recuar, em deixar-se calcar aos pés.”
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A serpente: falsa, agressiva, perspicaz e ágil
“Quão diversa é a serpente, agressiva, venenosa, falsa, perspicaz e ágil! Elegante e ao mesmo tempo repugnante; frágil a ponto de poder ser esmagada por um menino, e perigosa a ponto de matar um leão com seu veneno; adaptada por toda a sua conformação, seu modo de mover-se e de agir, ao ataque velado, traiçoeiro, fulminante; tão fascinante que em certas espécies hipnotiza, e ao mesmo tempo espalhando em torno de si o terror, é ela bem o símbolo do mal, com todos os encantamentos e toda a felonia das forças de perdição.”
Na malícia também a prudência e astúcia
“Mas em toda esta malícia quanta prudência, quanta astúcia. A prudência é a virtude pela qual alguém emprega os meios necessários para chegar aos fins que tem em vista. A astúcia é um aspecto, e de certo modo um requinte da prudência, pelo qual se mantém todo o silêncio e se empregam todos os disfarces lícitos, necessários para se chegar a um fim. Tudo na serpente é astúcia e prudência, desde a penetração de seu olhar, até o esguio de sua forma, e o terrível de sua arma essencial: uma só e pequena perfuração na pele da vítima, mas através disto, um veneno que em poucos instantes circula pelo corpo inteiro.”
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No Íbis temos a inocência da pomba e astúcia da serpente
“O Íbis nos dá um exemplo magnífico de como se podem aliar numa só ação a inocência da pomba e a astúcia da serpente. Faz ele seu ninho em árvores, e protege com vigilância e energia a sua progênie. Exemplo de virtude séria e forte, que assim dá ao homem.
“Vem porém a cobra, e traga-lhe um ovo, ameaçando deglutir os demais. Não menos hábil e capaz do que o réptil, o íbis o ataca no ponto certo, inutilizando-lhe todos os recursos de agressão e de defesa. Depois de algum tempo de pressão, a serpente entrega o ovo, e cai desfalecida ao chão.
“O íbis alcançou um objetivo honesto como a inocência da pomba, empregando os meios de luta que venceram em astúcia a serpente. https://www.pliniocorreadeoliveira.info/ACC_1953_037_Sede_prudentes.htm#.XxuFqJ5KiK8
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Numa linguagem acessível, objetiva e pulchra nos dá o Prof. Plinio uma ajuda para nossa vida espiritual ensinando, como a partir da coisas criadas, chegar por analogias, até as Perfeições do Criador.
Deus, causa exemplar do Universo. Tudo isso, o contrário do panteísmo, da ecologia integral, da integração com a Natureza.
(1) https://ipco.org.br/analogias-em-graus-de-perfeicao-transcender-para-amar-o-criador-iii/