Meu Deus, isto fala! Exclamou D. Pedro II, tendo junto ao ouvido uma espécie de mouse, chamado telefone. Era a primeira ligação telefônica da História, tendo ela alcançado nosso imperador na Exposição de Filadélfia, Estados Unidos, em 1876.
Mas isto ficou muito para trás. Em 3 de abril de 1973, há 40 anos, foi realizada a primeira chamada de celular em público. Em 1990, apareceu no Brasil o Motorola PT-550. Foi o início; hoje nosso País tem 263 milhões de linhas de celulares, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Nos começos, acontecia um coisa incrível. Gente que não tinha dinheiro para comprar um aparelho (naqueles inícios bastante caros), adquiriam uma espécie de imitação ordinária que não emitia nem transmitia nenhum som, e saiam pela rua falando como se alguém os estivesse escutando. Só para parecerem importantes, pois falar em um celular dava prestígio. Pensei que fosse um fenômeno brasileiro, mas um amigo disse-me ter visto o mesmo em um país do Velho Mundo. Até onde chega a vaidade humana! Adultos que brincavam de falar mas não falavam. Hoje, pelo contrário, algumas pessoas brincam de falar, mas falam efetivamente…
O celular é muito popular, mas tem também seus críticos. Segundo me contam, os aparelhinhos muitas vezes permanecem ligados nas partidas de futebol para que seus donos entendam o que está se realizando sob seus olhos!
Wayne Tompkins conta que Terrance Kibiloski não usa telefone celular ou bip porque, segundo suas palavras, “a escravidão foi abolida 140 anos atrás nos Estados Unidos”.
Em termos de rebelião na alta tecnologia, talvez a frase dele não seja exatamente uma explosão que percorrerá o mundo. Mas ela vem de um homem que, como editor da “Computer Times”, uma revista online sobre computadores (computertimes.com), se mantém a par de todas as mais recentes inovações e engenhocas tecnológicas.
Tem também o lado médico. Nesse sentido, o que Michael Hurd, um terapeuta e autor do Maryland, questiona, é se a força de trabalho norte-americana se tornou mais saudável com o uso desses aparelhos do que era no passado.
E quanto à pessoa humana em si mesma? “Continua a haver um grande grupo de pessoas por aí que se sentem energizadas por estarem sendo procuradas, por se manterem ocupadas e estarem no telefone o tempo todo. Essas pessoas não abrirão mão de seus telefones celulares e bips, porque não teriam nada com que substituí-los“.[1] Triste as contingências da alma humana! Mas essa “energização” terá certamente um impacto sobre os nervos deles, a força de sua personalidade, e a capacidade de eles serem eles mesmos.
Embora os viciados em celulares e bips não tenham sua produtividade prejudicada por causa disso, a eficiência deles no trabalho muitas vezes sofre. “Eles podem estar falando e gerando uma série de ações”, acrescenta Michael Hurd. “Mas será que elas são mesmo as ações corretas?”
Na realidade, o que está em jogo é o tipo humano que desejamos. Diz Dr. Plinio: “No século XIX, o ideal, o homem pleno. No século XX, o ideal, o homem prático. No século XIX, o ideal, a perfeição pessoal, atingir a plenitude de si mesmo. No século XX, o ideal, o êxito na vida. No século XIX, conceito de felicidade é o gozo de sua própria plenitude pessoal; no século XX, o conceito de felicidade é a sensação de segurança resultante do auxílio mútuo dos homens para com os homens”[2].
E no século XXI , qual o tipo humano de um fanático do celular, que pode chegar ao patamar de uma intemperança frenética?[3]
[1] USA Today 26-8-00.
[2] Palestra em 9-10-56.
[3] Cf. John Horvat II, Return to Order, York Press, York, 2013.
Nossa! Celular é do capeta também?
Eu acho que não tem ideal nenhum. Dizer que ter o último dos últimos modelos de celular é ideal é degradante.