Convido o leitor a um passeio pela Place du Tertre, em Paris, através das ilustrações desta página. Juntos, poderemos tirar conclusões surpreendentes.
Começo por traduzir “tertre”, que em francês significa colina, outeiro. O belo Outeiro da Glória, no Rio, seria um “tertre”. Nosso passeio é, pois, pela parisiense Praça do Outeiro.
De onde lhe vem esse nome? A Place du Tertre, junto à famosa Basílica do Sagrado Coração, situa-se a 130 metros de altitude em Montmartre, o bairro mais elevado de Paris, e dos mais antigos.
Na Place du Tertre reúnem-se habitualmente pintores e caricaturistas com suas barracas, oferecendo seus préstimos artísticos e vendendo suas obras aos turistas, que em grande número para lá afluem. Ela já foi definida como “um grande ateliê a céu aberto”. É uma feira de arte ao vivo.
Como em Paris tudo é belo – exceção feita, é claro, das obras implantadas especialmente a partir do governo socialista de Mitterrand – a Place du Tertre também é bela.
A primeira das ilustrações reproduz um ângulo feliz da praça (foto acima), em que aparece ao fundo a cúpula da Basílica do Sagrado Coração. Vêem-se as barracas dos artistas e seus clientes, os edifícios que reservam seu andar térreo para prósperos cafés e restaurantes, um grande número de pessoas movendo-se com a vivacidade calma que caracteriza o europeu.
A segunda foto é tirada ao anoitecer. O número de pessoas naturalmente é menor, mas a praça ganha em solenidade e valores imponderáveis. Uma certa feeria de luzes e cores se faz presente, na qual predominam o vermelho das barracas e, no céu, o azul anil tendendo ao escuro. À medida que a noite avança, a basílica se torna mais misteriosa, adquirindo algo de celeste e transcendente. Tem-se a impressão de que as obras dos artistas da praça, embora perdendo em nitidez, ganham em inspiração.
A terceira ilustração é um quadro impressionista. O autor não se preocupou tanto em pintar os detalhes, mas em transmitir o ambiente. Mais se adivinham do que se vêem as pessoas nas calçadas, em torno de mesas, para tomar um lanche ou uma refeição. A cena põe em realce a atividade artística, característica da praça, que aqui se afirma intensa. A cúpula da basílica a tudo preside, mas discreta e de longe.
Agora, um tombo: a quarta ilustração! Trata-se, aqui também, da Place du Tertre? Sim, pelo menos esse é o nome que o autor deu ao seu quadro. Mas se ele o chamasse Versalhes pela tarde, ou As cavalariças do rei Artur, ou lhe desse qualquer outra denominação, dava na mesma, pois é impossível adivinhar o que ele tentou representar. Assim é a arte moderna! Comparada à realidade mostrada nas fotos, ou à que foi elaborada pela arte verdadeira, ela é um aleijão irreconhecível.
Pois bem, esse quadro consta de um alentado catálogo francês de propaganda: La Gazette Drouot (26-2-2010), revista periódica de vendas em leilão. Trata-se de um quadro a óleo, de 73 x 92 cm, tendo como autor Gen-Paul (1895-1975); o valor estimado para ofertas é entre 60 mil e 70 mil euros…
Valor exorbitante para um quadro tão caótico, para não dizer grotesco…
A quarta ilustração: Árvores calcinadas, rodeadas favelas, nenhum sinal de verde — será a praça do Tertre ou um assentamento do INCRA?
Eu sugeriria que o nome do quadro de arte “moderna” fosse “casamento homessexual no parque”.