Um “vazio tecnicolor”?

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realidade virtual

O vazio, em certo sentido, é o pai e a mãe do mundo moderno.

As etapas precedentes por que passamos produziram alguns dos ingredientes do ambiente pós-moderno de hoje: o “geração-novismo”, o rock, a droga, a liberalização geral dos costumes, o anarquismo, o tribalismo, o hipismo, a teoria do gênero, etc. Esses ingredientes entraram num processo de fusão algo confuso, imersos numa espécie de caldeirão marcado por uma enorme tolerância.

Daí resultou um pirão geral, denominador comum de todas as disparidades.

E foi assim, que todas as variantes do espírito pós-moderno — melhor chamado de hiper-moderno — chegaram ao quotidiano, e nele se instalaram sob a forma de vazio.

Todas as correntes que formaram a caudal de tendências do Século XX acabam desaguando na perda de sentido de hoje, nessa grande desistência de viver uma vida que seja digna desse nome, uma vida que faça algum sentido. Assim, um “vazio tecnicolor” se estabelece por toda parte. Exceto nos locais onde se encontra uma versão mais avançada de vazio, que é o vazio preto e branco. Ou o famoso vazio cinzento.

Esse vazio é preenchido com alguma coisa? Preenchido só, não, ele é saturado. Saturado… com mais vazio! Só que esse vazio, como diz Jair Ferreira dos Santos, pode ser um “vazio cintilante”[i].

Esse “vazio cintilante” compreende vários aspectos, notadamente a saturação informativa e a sedução da onipresente imoralidade.

“As sociedades pós-industriais vivem saturadas pela informação. Vai-se ao consumo pela informação publicitária, consome-se informação no design, na embalagem, devora-se informação dos mass media e na parafernália ofertada pela tecnociência (micro,vídeo, etc.). O sujeito se converte assim num terminal de informação”.

“ Eis por que a massa pós-moderna é atomizada (ultrafragmentada)…. Ora, para motivar e controlar sujeitos atomizados, a autoridade e a polícia são secundários. Basta bombardeá-los com mensagens que excitem seus desejos”. [ii]

O homem de hoje já foi pitorescamente comparado a “um bípede com a boca aberta”,[iii] e também – já que estamos neste gênero de comparações – apresenta afinidades com o avestruz que, segundo se diz, quando se aproxima algum perigo, enfia a cabeça dentro da areia para não vê-lo. Diz Dr. Plinio:

“O avestruz continuará com a cabeça metida na areia {…} levando sua vidinha, e recitando o seu credo: Creio num só deus, o dinheiro onipotente, criador da fartura e da tranquilidade etc.”[iv].

Metem a cabeça dentro da televisão, dentro de uma vitrine ou dentro da tela do computador… E fogem, dessa maneira, da “cruel” realidade objetiva do século XXI.

Em pleno Terceiro Milênio, o homem já está cansado do vazio, tecnicolor ou preto e banco não importa. Oxalá esse cansaço gere um amor apaixonado e cheio de resoluções práticas, pela ordem, ou seja, “a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal”.[v]

Sem dúvida alguma, nesse universo de qualidades está a verdadeira alternativa, a verdadeira solução para o caos contemporâneo.

“Esse universo de qualidades afirma o ser sobre o não ser, a ordem sobre a desordem, a categoria sobre o que não tem categoria. E, assim, embevecidos, podemos considerar uma série de categorias que vão se requintando umas às outras, subindo, galgando cada vez mais, até um ápice que é a categoria das categorias, a perfeição das perfeições, a classe das classes, a distinção das distinções. Forma de bem majestosa, grandiosa, régia; forma que eleva, mas ao mesmo tempo tão suave, tão amena, tão acolhedora, que é desejosa de conter tudo em seus braços’.[vi]

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Fontes

[i] Jair Ferreira dos Santos, O que é Pós-Moderno (Ed. Brasiliense, São Paulo, 1986, 7ª ed., p. 95).
[ii] Jair Ferreira dos Santos, O que é Pós-Moderno (Ed. Brasiliense, São Paulo, 1986, 7ª ed., p. 95).
[iii] Entrevista de Laurent Suaudeau a “Catolicismo“, nº 516, dezembro de 1993.
[iv] Plinio Corrêa de Oliveira, “Folha de S. Paulo”, 31 de janeiro de 1971.
[v] Revolução e Contra-Revolução, I, II-1.
[vi] 14-12-1968.

3 COMENTÁRIOS

  1. Sincero , real e cotidiano para alguns , a anestesia generalizada não foi criada a toa, foi muito bem planejada e articulada e o sadio exercício do pensamento em uma grande maioria já não existe.
    Boa matéria, esclarecedora e educativa especialmente para os que tem o dever de ensinar de educar com consciência de sentimentos para assentar seguros alicerces para a conduta humana e a formação do caráter. Parabéns IPCO !!

  2. exelente informação, precisamos fazer alguma coisa a começar por cada um de nós que temos o previlegio de ser informado deste projeto lento e mortal que esta sendo imbutido em nossas vidas.

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