Faz parte do mito igualitário imaginar que qualquer superioridade gera opressão nos subalternos. Tal concepção marxista é desmascarada por Dr. Adolpho Lindenberg na sua obra. Ele demonstra que as desigualdades harmônicas e proporcionadas são desejadas por Deus, que ama todos seus filhos — ricos e pobres, grandes e pequenos, nobres e plebeus — e as estabeleceu na Criação para o esplendor da ordem social e a beleza do Universo.
A utopia e a ditadura igualitária, pelo contrário, subjugam e aviltam — observa o autor — a mentalidade das pessoas no mundo moderno, roubando-lhes o que há de melhor para o enriquecimento de suas personalidades e impedindo-as de cumprir plenamente a finalidade para a qual Deus as criou.
Entrevistamos Dr. Adolpho sobre diversas questões relacionadas com o palpitante tema de seu recente livro Utopia Igualitária. Ele é um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) e atual presidente do Instituto que leva o nome de seu primo-irmão, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Engenheiro pela Universidade Mackenzie, sua atividade profissional sempre esteve relacionada com a Construtora Adolpho Lindenberg, uma das mais conceituadas no País, que se notabilizou pela reintrodução do estilo colonial e o lançamento do estilo neoclássico na construção de edifícios.
Catolicismo — O que o levou a escrever esse livro no momento atual?
Adolpho Lindenberg — Dr. Plinio Corrêa de Oliveira sempre apontou o igualitarismo como sendo a essência da Revolução — um movimento que visa destruir as ruinas remanescentes da Cristandade —, e que só em nossos dias adquiriu dimensões extremas, de tal magnitude que a denuncia dessa “revolução igualitária” tornou-se impreterível.
Catolicismo — No livro, o senhor utiliza o termo igualitarismo relacionando-o com alguma ideologia?
Adolpho Lindenberg — Esse termo é um neologismo indicando a intenção revolucionária de nivelar por baixo todos os valores, ou seja, de amesquinhar a personalidade dos homens, sua dignidade, sua honra, e todas as demais características que tornam os seres diferentes uns dos outros. É como se assistíssemos ao nascer de um mundo novo com novos paradigmas — nivelamento social, bem-estar do corpo, eliminação das hierarquias —, os quais seriam responsáveis por todas as rivalidades, por todos os ódios, ressentimentos e guerras. O homem-massa, uniformizado, incapaz de elevar os olhos para o maravilhoso e o sublime, como aquele descrito por Aldous Huxley, é o modelo proposto pelos propugnadores do igualitarismo.
Catolicismo — No momento atual, qual é o alvo visado pelos defensores da “revolução igualitária”?
Adolpho Lindenberg — O alvo deles sempre foi e será nivelar Deus ao nível dos homens. Eles adotam a doutrina panteísta, que nega a transcendência absoluta do Criador de todas as coisas em relação às criaturas. Rebaixando a Figura Divina, fica mais fácil destruir na mente humana a compreensão de Deus como o Todo-Poderoso, Magnificente, Infinito, Criador do Céu e da Terra, Juiz Supremo no Final dos Tempos. Eles divulgam a imagem de um Deus semelhante à de um “Papai Noel”, velhusco, conivente e indulgente para com os nossos pecados, sentado nas nuvens, sem nenhuma majestade.
Catolicismo — Quais são as ideologias que mais favoreceram a propagação dos ideais igualitários?
Adolpho Lindenberg — Conforme está descrito na obra Revolução e Contra Revolução de Dr. Plinio, o igualitarismo começou quando a sociedade medieval deixou de ser teocêntrica. O passo seguinte foi a Revolução Francesa (1789), propondo o fim de todas as distinções sociais. Mais tarde adveio o comunismo (1917), propondo o nivelamento econômico e a ditadura do Estado. Finalmente, surgiu o movimento hippie, vanguarda extrema no terreno cultural — anarquista, disposto a combater tudo o que se relacione com ordem, hierarquia, harmonia, beleza e esplendor.
Catolicismo — Seria possível descrever mais pormenorizadamente essa última etapa do processo revolucionário?
Adolpho Lindenberg — A tão celebrada ruptura com o mundo clássico, ocorrida logo após a Primeira Guerra Mundial, através da difusão da arte, da arquitetura e da música modernas, teve por objetivo erradicar todas as formas de beleza, de proporcionalidade, de cognoscibilidade e de elevação que presidiam até então a criação das obras de arte e o modo de as pessoas se vestirem, falarem e se comportarem. A ponta de lança desse flagelo é a Arte Contemporânea, que difunde o nauseabundo, o hermético, o absurdo, o caos.
Catolicismo — Aprendemos nas escolas que a Idade Média foi um “período de trevas” — de estagnação, fanatismo e difamações semelhantes. E que a época histórica, desde o fim da Idade Média até a Revolução Francesa, denominada Ancien Régime, foi um período de snobismo, privilégios e prepotências. Por que razão o senhor elogia em seu livro essas épocas, afirmando que suas virtudes suplantaram seus vícios?
Adolpho Lindenberg — Essas críticas feitas nos dias atuais ao período medieval estão sendo desclassificadas. Historiadores sérios e sociólogos de peso — muitos deles não católicos e, portanto, insuspeitos — nos apresentam um quadro totalmente diverso. Na Idade Média, a preocupação central não era levar uma vida gostosa, emoliente, mas em direcioná-la para um louvor a Deus. Os hábitos primitivos e pagãos dos bárbaros foram sendo gradativamente substituídos por um teor de vida civilizado, cristão, com certa nota de candura e simplicidade. A figura luminosa de São Luís IX, rei da França, encarna de modo perfeito os ideais dominantes naquele tempo.
Catolicismo — Certos historiadores parciais referem-se a torturas, guerras, perseguição às ciências na Idade Média…
Adolpho Lindenberg — No tocante às ciências, nada houve que se assemelhasse a uma hostilidade; pelo contrário, hoje em dia está provado que o período medieval caracterizou-se por um progresso acentuado em todas as áreas do conhecimento humano. Torturas e guerras houve, embora menos do que na Renascença. E cumpre lembrar que os costumes bárbaros vigentes em épocas anteriores só com o tempo foram eliminados, e pouco-a-pouco os bárbaros foram sendo civilizados. A prática das virtudes se estabeleceram ao longo das gerações. O reto agir fez com que os homens aprimorassem suas personalidades, seu modo de ser, sua aparência e passassem a apreciar as coisas por sua beleza, classe e sacralidade. Noutras palavras, as pessoas foram ficando mais civilizadas, mais finas e cultas.
Catolicismo — Em sua obra, o senhor cita exemplos isolados do quotidiano para demonstrar os avanços do igualitarismo, por exemplo, o abandono do uso da gravata ou a montagem de uma poltrona ergométrica. O senhor julga que tais exemplos são suficientes para corroborar suas críticas ao mundo moderno?
Adolpho Lindenberg — Isoladamente, de fato eles dizem pouco, mas vistos em seu conjunto — talvez fosse o caso de enumerar outros fatos numa segunda edição — comprovam que não são inovações esporádicas, mas fazem parte, ao lado de centenas de outros, de uma inundação que mais cedo ou mais tarde vai cobrir o mundo inteiro, pois se trata de um plano universal. Assim, por exemplo, o abandono da gravata parece algo secundário. Mas se essa ablação for acompanhada por dezenas de outras simplificações — o uso de camisas com punhos arregaçados, de bermudões para homens de forma e cor indefinidas, a moda Kitsch para as mulheres —, ficará demostrado que fazem parte de um plano universal, visando rebaixar a aparência humana, tirando-lhe o prumo, a grandeza e o brilho.
Catolicismo — “Plano universal”? O que significa isso?
Adolpho Lindenberg — Para a difusão, num primeiro momento da Arte Moderna e atualmente da Arte Contemporânea, colaboram grandes entidades de caráter mundial, que intentam criar um mundo novo e igualitário, nos antípodas da Cristandade de outrora: a ONU, a União Europeia, fundações como Rockfeller, Ford, Gates e dezenas de outras, bem como universidades dominadas pelo pensamento marxista, grandes grifes orientadoras da moda, revistas e jornais de ponta, e o jet-setinternacional.
Catolicismo — Se esse movimento revolucionário nivelador possui essa força, que procedimento o senhor recomendaria aos nossos leitores?
Adolpho Lindenberg — De início, um esforço pedagógico: eliminemos de nós mesmos as condescendências com esse mundo novo extravagante, bem como essa arte hermética e absurda que nos está sendo imposta. Num segundo momento, procuremos alertar nossos amigos e conhecidos para que vejam com isenção de ânimo o quanto é incongruente e de baixo nível as obras apresentadas nos museus e exposições de vanguarda. Um só exemplo: Duchamp, o criador da arte contemporânea, apresentou um mictório como peça artística central de uma de suas amostras. E a mídia revolucionária se encarregou de propagar extravagâncias como essa.
____________
Fonte: Revista Catolicismo, Nº 801, Setembro/2017.
Marcel Duchamp era um provocador. Na verdade, ele ao apresentar objectos, os “ready-made” como obras de arte queria fazer exactamente anti-arte! Era o propósito do “dadaísmo”. Eu aprecio vários estilos de arte contemporânea, mas anti-arte, evidentemente que não era para levar a sério, a não ser como provocação anti-artística.