Vida mecânica, vida natural

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Em sua bela alocução do Natal de 1952, a nosso ver um dos documentos mais profundos, até aqui publicados por um Papa, o Santo Padre Pio XII pôs em evidência que o tecnicismo contemporâneo, ao par das realizações brilhantes que tem alcançado, cria também para o homem problemas complexíssimos. Com efeito, a máquina – “alma” de quase toda a técnica – tende a sujeitar inteiramente a seu ritmo mecânico todo o trabalho humano. O trabalho, e mais do que o trabalho as diversões, a vida de família, toda a existência enfim. Pois em todos os domínios o homem vai se utilizando cada vez mais largamente da máquina, e aceitando de adaptar-se a ela, pra fruir as vantagens que ela proporciona. Nestas condições, a influência da máquina tende a penetrar nas esferas mais delicadas e mais altas da vida humana, isto é, tende a criar um estilo de vida, um modo de conceber os problemas e de os resolver, uma mentalidade enfim, inteiramente mecanizada. Homens estandardizados, com idéias e gostos padronizados imersos num estado de espírito de um tédio sombrio, displicente, pesado, cheio de fadiga, interrompido apenas pelas excitações delirantes do cinema, da televisão, do rádio, ou das “torcidas” esportivas.

Nosso primeiro clichê apresenta um conglomerado de homens nessas condições. Trata-se de trabalhadores utilizados em construções civis destinadas ao esforço de guerra aliado. Operários à espera de entrar na fábrica, público aguardando a abertura de um estádio, massa humana num pátio de estação esperando um trem; por toda a parte as fisionomias são estas. Infelizes multidões vivendo sob o jugo sombrio, nivelador, despersonalizante, da máquina.

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Há doenças que vão devorando sua vitima tão aos poucos, que ela nem percebe. Lentamente, vai se adaptando às situações novas, e perdendo a recordação de como se sentia quando gozava inteira saúde. E por isto, para que o médico obtenha que uma pessoa nestas condições se trate, é necessário que comece por lhe dar inteira consciência de que seu estado é anômalo. O que só alcança reavivando-lhe a memória do que era antigamente, e comparando este antigo estado com sua situação presente.

Publicamos hoje um aspecto típico do ambiente popular alsaciano [reproduction d’aquarelle de P. KAUFFMANN (1877-1937) parue dans l’ILLUSTRATION en 1919], ainda impregnado da atmosfera da vida agrícola tradicional, não mecanizada. Os personagens, numa atitude plácida, distendida, afável, bem característica do camponês, conversam. Com plena naturalidade, as personalidades se manifestam em sua riqueza e diversidade. Nada aí é padronizado. Muito pelo contrário, as diferenças de sexo, idade, temperamento pessoal, são evidentes. Os homens são homens, as mulheres são mulheres, o velho é um velho, e o menino, um menino. Ninguém tem a preocupação de ser moço antes… ou depois do tempo. Mais ainda. A grande variedade de trajes que aí se observa tem sua explicação. Cada um destes trajes é típico de uma pequena região, ou aldeia. É que tal é a variedade de ambiente psicológico em cada uma, que lhe foi como que necessário desabafa-la em uma arte local própria, da qual a indumentária não é senão um dos aspectos.

Quanta riqueza de alma nesta variedade. E quanto empobrecimento espiritual nas nossas modas cosmopolitas, em que o mesmo corte, a mesma forma, os mesmos tecidos, quase as mesmas cores são impostas ao mundo inteiro.

1 COMENTÁRIO

  1. Lindo comentário e quadros bem exemplificados pelo PROF. PLÍNIO CORRÊA DE OLIVEIRA em julho de 1955 no jornal CATOLICISMO,mês e ano do meu nascimento.Uma foto é a massa humana,sem personalidade própria,sem decisão e ideia próprias,sempre manipulado por fora.A segunda,é pintura retratando o verdadeiro povo na vida orgânica com toque da civilização Cristã.Com personalidade própria e suas próprias ideias,costumes e tendências.

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