Como viviam os estudantes universitários na Idade Média
No conjunto, o estudante do século XIII não tem uma vida muito diferente da do século XX.
Conservaram-se e publicaram-se cartas dirigidas aos pais ou a colegas (Cf. Haskins, The life of medieval students as illustrated by their letters, in American Historical Review, III (1892), nº 2), que revelam aproximadamente as mesmas preocupações de hoje: os estudos, os pedidos de dinheiro e de provisões, os exames.
No ensino medieval, o estudante rico morava na cidade com o seu criado, os de condição mais modesta hospedavam-se em casas de burgueses do bairro Sainte-Geneviève e faziam-se exonerar de toda ou parte das suas taxas de inscrição na faculdade.
Pobres com acesso ao ensino medieval
Encontramos frequentemente à margem, nos registros, uma menção indicando que fulano ou beltrano nada pagou, ou só pagou metade da remuneração, propter inopiam (devido à sua pobreza).
O estudante desprovido de recursos faz frequentemente pequenos trabalhos para viver. É copista, encadernador nos livreiros que têm loja na Rue des Écoles ou na Rue Saint-Jacques.
Além disso, pode ser custeado de cama e mesa nos colégios instituídos. O primeiro deles foi criado no Hôtel-Dieu de Paris por um burguês de Londres que, no regresso de uma peregrinação à Terra Santa, pelo fim do século XII, teve a ideia de fazer uma obra piedosa favorecendo o saber nas pessoas de modesta condição.
Deixou uma fundação perpétua, encarregada de albergar e de alimentar gratuitamente dezoito estudantes pobres, que só ficavam sujeitos a velar os mortos do hospital e a levar cruz e água benta por ocasião dos enterros.
Um pouco mais tarde fundaram-se de igual modo o colégio Saint-Honoré e o de São Tomás no Louvre, seguidos de muitos outros.
Pouco a pouco, ganhou-se o hábito de organizar nesses colégios sessões de trabalho em comum, como nos seminários alemães, ou os grupos de estudos que funcionam desde alguns anos antes nas nossas faculdades.
Os professores vieram aí lecionar, alguns fixaram-se, e por vezes o colégio tornou-se mais frequentado do que a própria universidade, como acontece com o colégio da Sorbonne.
No conjunto havia todo um sistema de bolsas, não oficialmente organizado, mas correntemente em uso, e que se aparentava com a Escola Normal Superior francesa, menos o exame de entrada, ou ainda aquilo que se pratica nas universidades inglesas, nas quais o estudante bolsista recebe gratuitamente não apenas a instrução, mas ainda cama e mesa, e por vezes vestuário.
(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” – Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)
Como ela pode ser “laica” se quem criou o sistema universitário foi a Igreja.É como se um filho quisesse se deixar de ser filho da própria mãe.
Eu tenho uma matéria mais completa sobre a educação na idade média. O que me chamou a atenção nela foi que os filhos de ricos, apesar da mordomia, ainda tinham que ter uma profissão que os sustentasse, porque a riqueza podia acabar e o filho não ter como sobreviver depois. E isso falta a muitos filhinhos de papai hoje em dia que estão, por assim dizer, protegidos e não trabalham vivendo as custas dos bens e rendas vitalicias, e há aqueles que acham que os outros é que são obrigados a sustentá-los.
E sobre a educação romana em que desde cedo o pai ensinava aos filhinhos lutas para ser um soldado romano e a oratória, duas grandes propostas para a época.
E o escritor Rubem Alves disse em um documentário que hoje ele tem medo das faculdades. Pelo que deixou transparecer é que a formação acadêmica deixa a desejar em muitos aspectos.
Não deixa de ser interessante tais assuntos.
Uma diferença fundamental em relação aos dias de hoje: universidades são laicas.