Até quando, justo Senhor, Deus das vinganças? (II)

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No artigo anterior, com o mesmo título em epígrafe, prometi voltar ao assunto do aborto. Apenas para recordar um ponto importante, torno a citar Santo Agostinho, quando trata dos homens que se movem por amor a Deus e aqueles que se movem por amor egoístico, colocando entre este último o pretenso “direito” da mulher de decidir sobre o seu próprio corpo no caso do aborto.

Com efeito, é com interesse — e muita preocupação — que vimos acompanhando o desenrolar da ação (ADPF 442), proposta pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), pedindo a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Não preciso dizer que se tal proposta for aprovada as portas da legislação brasileira ficarão escancaradas para todo tipo de aborto.

Para esse Partido Socialista — na verdade radicalmente comunista —, a lei em vigor viola os princípios fundamentais. Na minha formação sacerdotal, estudei ciências naturais, ética, filosofia, sociologia e, é claro, teologia dogmática e moral, não sendo difícil, portanto, perceber a inconsistência desta ação.

Pela mesma razão, entendo a completa impossibilidade de juízes — máxime os da Suprema Corte — julgarem procedente a ação desse partido político libertário, que prega a liberdade para tudo e para todos, menos para o nascituro inocente e indefeso. É um verdadeiro absurdo sustentar o “direito fundamental da mulher” de tirar a vida de um ser gerado em seu próprio ventre.

Constitui uma gravíssima ofensa a Deus e à própria dignidade da mulher atribuir-lhe o direito de matar seu filho. Só num mundo muito decadente alguém ousaria sustentar o contrário. Se for admitido hoje o princípio de que se pode tirar a vida de uma pessoa inocente pelo simples fato de ela não ser desejada, assistiremos amanhã à matança de qualquer pessoa que venha a prejudicar o nosso egoísmo.

Em passado recente, esta macabra história tornou-se realidade em inúmeras ditaduras, na Europa e em outras partes do mundo. Jesus Cristo ensinou que “haveis de chorar e de lamentar, enquanto o mundo há de se alegrar: vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em gozo”.

Quando a mulher está para dar à luz, ela fica naturalmente preocupada. Mas sua aflição se transforma em alegria com o nascimento do filho. É uma imagem de Cristo ressurreto, que veio à luz no domingo da Ressurreição. Ele, no seio da terra, representa uma criança no ventre materno, e assim como Ele ressurgiu dos mortos, também a criança virá à luz do mundo.

Na sua epístola aos efésios (cap. 5, 22-33), São Paulo trata da sublimidade do matrimônio, comparando-o coma união de Cristo com a Igreja. Se o marido é a cabeça da mulher, Cristo é a cabeça da Igreja. Cristo ama a Igreja e se entrega a Ela para torná-La mais resplandecente e gloriosa.

Como Jesus Cristo ama a Igreja, assim o marido deve amar a sua esposa como se fosse o seu próprio corpo, porque ninguém aborreceu a sua própria carne. Antes, ele a nutre e cuida dela como Cristo procede em relação à sua Igreja, pois somos membros de seu Corpo Místico. O aborto é a violação do princípio da relação entre Cristo e a Igreja, o esposo e a esposa. Mais. Enquanto São Paulo fala de luz, de santo, de imaculado e sem rugas, o aborto fala de destruição, de trevas, de morte e de corrupção.

O fruto do primeiro momento de um relacionamento entre um homem e uma mulher se chama embrião. Ele contém em grau pequeno um ser vital que não tardará a nascer homem ou mulher. Afirmar, em nome da dignidade da mulher, que ela pode eliminar a seu bel-prazer a vida de um filho gerado em seu ventre, contraria rotundamente os princípios mais elementares da racionalidade e da sanidade mental. O livro do Eclesiastes narra que o abortado é como algo que não conheceu a luz do sol, não teve o seu nome ilustrado entre os vivos; sobretudo, não foi levado à pia batismal.

O Profeta Isaías narra o horror daqueles que morrem na guerra pelo fio da espada, cujos corpos estendidos por terra são pisoteados pelos cavalos e pelos guerreiros, comparando-os aos abortados que não têm sepultura nem honra. Com efeito, a situação do abortado é pior que a do morto na guerra, sem lar, sem o aconchego da família nem sepultura. E o abortado foi morto por uma pena capital imposta por lei humana…

Ancorada em bons teólogos e no Catecismo da Santa Igreja, a moral católica nos ensina que só é lícito matar alguém em legítima defesa da própria vida ou numa guerra justa, ou ainda no cumprimento de uma execução penal ditada por um tribunal legitimamente constituído. Nenhuma autoridade, por mais soberana que imaginar se possa, poderá autorizar ou legitimar tal prática.

A expectativa dos brasileiros é a de que os juízes do Supremo Tribunal Federal julguem com reta consciência esta questão, não se deixando influenciar por pressões daqueles que defendem a cultura da morte, nem mesmo por alguma convicção ideológica própria que vá nesse sentido, mas que pautem seu voto na lei natural, na Lei de Deus e na Constituição brasileira, que garantem o direito à vida desde a concepção.

Em oração e sempre vigilantes, rogamos a Nossa Senhora Aparecida que proteja o Brasil do pecado do aborto que brada aos céus e clama a Deus por vingança. Que os brasileiros sejam obedientes aos preceitos de Deus, que nunca desampara seus filhos.

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