Continuação do post anterior: Promoção da agenda “verde” no pontificado do Papa Francisco
Visão apocalíptica fundada em “dogmas” sem base científica
Na encíclica Laudato Sì, extrapolando sua função de guardião da fé e da moral, o Papa Francisco tomou abertamente partido em um debate altamente técnico, e propôs soluções que amplos setores do mundo científico, econômico e político consideram perniciosas para a humanidade, em particular para as regiões e camadas mais pobres da população do planeta. E isso apesar de na exortação Evangelii Gaudium ele ter escrito que “os crentes não podem pretender que uma opinião científica que lhes agrada — e que nem sequer foi suficientemente comprovada — adquira o peso de um dogma de fé”[1], e de reconhecer, na própria Laudato Sì, que “há discussões sobre problemas relativos ao meio ambiente, onde é difícil chegar a um consenso”, pelo que convida “a um debate honesto e transparente” [2].
Em que pese o anteriormente dito, o Papa afirma que “há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático”, que “numerosos estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento global das últimas décadas é devida à alta concentração de gases com efeito de estufa […] emitidos sobretudo por causa da atividade humana”, e que isso “é particularmente agravado pelo modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis”[3].
Com base nessas asserções, sem apoio em qualquer fonte, nem sequer em pé de página[4], a encíclica fornece uma visão apocalíptica dessas ameaças ao meio ambiente[5]: “O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida atual — por ser insustentável — só pode desembocar em catástrofes, como aliás já está acontecendo periodicamente em várias regiões”[6].
Promoção de um estilo de vida miserabilista que prejudicará sobretudo os pobres
Para o Papa Francisco, “as raízes mais profundas dos desequilíbrios atuais” têm a ver com “a orientação, os fins, o sentido e o contexto social do crescimento tecnológico e econômico”[7], que procura um aumento indefinido da riqueza. Seria preciso, pelo contrário, uma “nova síntese”[8], uma “mudança radical”[9] e uma “corajosa revolução cultural”[10]. Sem querer “o regresso à Idade da Pedra”[11], ele sustenta, porém, que a “humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam”[12].
Essa nova cultura ecológica “deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático”[13]. Como exemplo de “hábitos nocivos de consumo” perniciosos para o meio ambiente, o Papa cita “o crescente aumento do uso e intensidade dos condicionadores de ar”[14], esquecendo que eles não são um luxo frívolo (se tivessem ar condicionado em casa, 14 mil anciãos provavelmente não teriam morrido na onda de calor que assolou o sul da França em 2003), mas uma necessidade para as condições de vida e de trabalho de milhões de pessoas em regiões tropicais.
O Papa Francisco parece esquecer que por volta de 1815 havia na Terra cerca de 1 bilhão de habitantes (a cifra ideal de Hans Schellnhuber), mas que nessa época a esperança de vida era de apenas 30 anos, e o ingresso per capita, em moeda constante, por volta de US$ 100, ou seja, que em nível mundial, por causa do progresso industrial, a esperança de vida mais do que dobrou (hoje é de 71 anos) e o ingresso multiplicou-se mais de cem vezes (hoje é US$ 12,000)[15].
Segundo o Papa Francisco, a “abordagem ecológica” é indispensável para “ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres”, principais vítimas do desenvolvimento, uma vez que eles são “maioria no planeta, milhares de milhões de pessoas”[16]. De um lado, ele também parece esquecer que a redução da extrema pobreza tem sido um grande sucesso — de 1990 a 2010 ela foi dividida pela metade, segundo o insuspeito relatório da ONU sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, do ano 2014 — e, de outro lado, que se as propostas da encíclica fossem aplicadas, as maiores vítimas seriam os pobres da periferia, ou seja, os residentes nas regiões menos desenvolvidas do mundo, condenados a permanecer no subdesenvolvimento.
É igualmente demagógico afirmar, no que se refere ao “clamor da terra”, que deixaremos às gerações futuras somente “ruínas, desertos e lixo”[17]. Como bem apontou o colunista George Will, basta comparar os níveis de poluição em Londres nos romances de Charles Dickens ou olhar para a notável transformação do rio Tâmisa nos últimos 50 anos, para ver um eloquente desmentido[18]. E a realidade no que concerne ao lixo não é tão ruim, porque muito do “descarte” é reciclado, sendo a indústria da reciclagem uma fonte suplementar de muitos empregos e de riqueza[19].
Continua no próximo post: Os índios, modelo de respeito ecológico à natureza
O livro pode ser lido na integra na pagina: https://ipco.org.br/a-mudanca-de-paradigma/
O livro A “mudança de paradigma” do Papa Francisco – Continuidade ou ruptura na missão da Igreja? pode ser comprado na livraria Petrus:
http://www.livrariapetrus.com.br/Produto.aspxIdProduto=382&IdProdutoVersao=394&cod=UKZbn
[1] Evangelii gaudium n° 243.
[2] Laudato Sì n° 188 http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html
[3] Laudato Sì n° 23.
[4] O cardeal George Pell declarou a esse respeito: “A Igreja não tem nenhum mandato do Senhor para pronunciar-se em matérias científicas” (http://www.ft.com/cms/s/0/7f429c28-2bc6-11e5-acfb-cbd2e1c81cca.html )
[5] Por exemplo, apesar de o CO2 ser parte natural da atmosfera e necessário ao crescimento de qualquer vegetal, incluído o fito plâncton marinho, e à libertação de oxigênio na atmosfera, o Papa afirma que “a poluição (sic!) produzida pelo dióxido de carbono aumenta a acidez dos oceanos e compromete a cadeia alimentar marinha” (n° 24).
[6] Laudato Sì, n° 161.
[7] Ibid. n° 109.
[8] Ibid. n° 112.
[9] Ibid. n° 171.
[10] Ibid. n° 114.
[11] Ibid. n° 114.
[12] Ibid. n° 23.
[13] Ibid. n° 111.
[14] Ibid. n° 55.
[15] V. Steven W. Mosher, “Do the Pope and I live on the same planet?”, http://nypost.com/2015/07/05/do-the-pope-and-i-live-on-the-same-planet/
[16] Laudato Sì n° 49.
[17] Ibid. n° 161.
[18] https://www.washingtonpost.com/opinions/pope-franciss-fact-free-flamboyance/2015/09/18/7d711750-5d6a-11e5-8e9e-dce8a2a2a679_story.html?utm_term=.3063b1df62ac
[19] Ver Fr James V. Schall sj, “Concerning the ‘Ecological’ Path to Salvation” in http://www.catholicworldreport.com/2015/06/21/concerning-the-ecological-path-to-salvation/
[…] agrada — e que nem sequer foi suficientemente comprovada — adquira o peso de um dogma de fé”[1], e de reconhecer, na própria Laudato Sì, que “há discussões sobre problemas relativos ao […]
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