Em 2016, Peter Dahlin, militante de uma ONG pelos direitos humanos ativa na China “desapareceu” na estrada rumo ao aeroporto de Pequim.
Poucas semanas depois, reapareceu na TV estatal confessando ter “posto em perigo a segurança do Estado” apoiando ativistas locais. Pediu então perdão por “ferir os sentimentos do povo chinês”.
Algumas semanas mais tarde, após ser deportado à Suíça, ele revelou que aquela “confissão” pública foi forçada pelas autoridades. Essas exploraram sua frágil saúde e ameaçaram sua noiva que também ficou “desaparecida”, denunciou reportagem de “El Mundo” de Madri.
A ONG Safeguard Defenders recolheu em relatório essa horrível experiência e a de outros presos que durante os últimos anos viveram amargos momentos similares.
O relatório aponta que o regime comunista – “o que melhor aplica a doutrina social da Igreja”, segundo o representante vaticano D.Sánchez Sorondo – usa sistematicamente métodos de intimidação e terror.
Ele age como sempre agiu o regime marxista com finalidades de propaganda violando os fundamentos de qualquer processo jurídico internacionalmente reconhecido.
O relatório de Safeguard Defenders analisa 45 casos registrados entre julho de 2013 e fevereiro de 2018. Mais da metade deles vitimaram advogados, jornalistas ou defensores dos direitos humanos.
A grande maioria dessas “confissões” foram divulgadas pela TV, antes mesmo de haver algum procedimento judicial, ignorando por completo a presunção de inocência que está incluída na legislação chinesa. Para inglês ver obviamente.
Os “arrependidos” descreveram como foram vestidos pela polícia para a iníqua encenação e o script que deviam memorizar, com instruções precisas de quando chorar ou fazer algum gesto desejado pelos torturadores.
Segundo o relatório, os torturadores procediam a várias gravações até que os chefes marxistas se achavam satisfeitos com o resultado.
“Tudo era uma coreografia que durou por volta de sete horas, mas as repetições foram tantas que não lembro com certeza”, disse um dos “arrependidos” identificado com o pseudônimo de Wen.
Nos tribunais chineses as condenas caem sobre mais de 99% dos acusados.
Outra associação, a Anistia Internacional em relatório 2015, registra que a justiça penal socialista se baseia principalmente nas “confissões” de réus para poder condena-los.
Por isso os agentes policiais não hesitam em recorrer à violência para arrancar a auto admissão dos fatos imputados e encerrar o caso.
“(A policia) me ameaçou dizendo que se não cooperava seria sentenciado à prisão, perderia o emprego, minha família me abandonaria e perderia a reputação para o resto da vida”, garantiu uma vítima do sistema identificada como Li.
O relatório de Safeguard Defenders sublinha a parte dos meios de comunicação, que colaboram na gravação e difusão desses mea culpa forçados.
“A mídia que filma, colabora com a polícia na montagem do processo, e emite as ‘confissões’ pelos órgãos estatais ou privados, é tão culpada quanto o Estado chinês nessa prática enganosa, ilegal e que viola os direitos humanos”, constata o texto.
A maior parte dessas emissões foi ao ar pelo canal estatal CCTV.
Em 2016, o site ‘The Paper’ financiado pelo governo emitiu mais uma “confissão” trucada de Wang Yu, advogada de direitos humanos, em que ela garantia que “forças estrangeiras” utilizaram sua empresa jurídica para danificar a reputação da China.
O relatório cita o jornal ‘South China Morning Post’, “o mais destacado jornal colaborador em inglês”, editado em Hong Kong, que publicou uma entrevista em que Gui Minhai, um dos cinco livreiros raptados em Hong Kong em 2015 diz que eles difundiam textos que danificavam a reputação do Partido Comunista chinês.
Desde que o presidente Xi Jinping assumiu o poder em 2012, foi desencadeado um ataque contra a sociedade civil, prendendo qualquer um que não esteja em consonância com o Partido Comunista chinês e suas políticas.
É o caso da Igreja Católica dita “clandestina” que não aceita as doutrinas e chantagens socialistas e por isso é perseguida até pela Ostpolitik vaticana.
Nesse caso, Pequim, mais do que confiar em sua polícia ideológica e nas torturas, prefere que o Vaticano se encarregue de reprimir. Essa é a essência dos desejos de Pequim num acordo com a Santa Sé dirigida pelo Papa Francisco.
O método das confissões forçadas foi imposto pelo ditador marxista Joseph Stalin na União Soviética. Mao Tsé Tung o adotou na China antes mesmo de usurpar o poder em 1949.
“O processo de autocrítica é um dos objetivos mais importantes da cultura e da arte. Se se faz forma correta… podemos estar certos da qualidade e da efetividade da educação das massas”, garantiu o líder comunista em um de seus mais cultuados e monstruosos discursos.
Essa prática foi especialmente aplicada durante a Revolução Cultural chinesa (1966-1976) tão admirada pelos agitadores de Maio de 68 no Ocidente.
E hoje voltam por instrução de Xi Jinping também em boas relações com as esquerdas civis e vaticanas.