A rama financeira de Alibaba, o maior conglomerado de comércio eletrônico do planeta aliás chinês, já passou a incluir em seu sistema o ‘Zhima Credit’.
Esse apresenta no smartphone um inexplicado número de três cifras, entre 350 e 950.
O jornalista de “La Nación” de Buenos Aires constatou que seu número era 654, uma qualificação considerada ‘excelente’.
Muito poucos sabem o que significa. Trata-se da entrada no sistema de pontuação social aplicado por Alibaba, para julgar seus clientes.
Oficialmente é uma nota à conduta dos usuários e um indicador da confiança que merecem.
O algoritmo que fixa a qualificação é extremamente opaco, e considera o que compram, a quem, multas e conduta face aos créditos bancários.
Os usuários melhor cotados podem usar sala VIP em aeroportos, alugar sem fazer depósitos de garantia ou receber empréstimos em condições mais favorecidas.
Uma das principais locadoras de bicicletas de China, Mobike, vai usar a pontuação para penalizar os usuários de baixa nota: terão que pagar o dobro.
E os qualificados como ‘deficiente’ terão que pagar até cem vezes mais.
O preço fica inacessível e não terão bicicleta.
Deixar a bicicleta em local improprio ou danifica-la, violar regras do trânsito, implicará queda na qualificação.
Mas isso não é um sistema empresarial: se trata das primeiras penetrações do “crédito social” que o governo comunista aprovou em 2014 e que está introduzindo paulatinamente.
m seu bojo contém o mais orwelliano sistema de repressão política.
Essa começa dissimulada sob rótulos como ‘credibilidade jurídica’; ‘honestidade comercial’, ‘integridade social’ ou ter manifestado nas redes sociais ideias que desagradam ao regime.
Até a pontuação dos amigos afetará aos cidadãos que lhe são próximos.
O sistema, ainda não inteiramente implantado, parece de ciência ficção.
Em março, a Comissão Nacional para Reforma e Desenvolvimento anunciou que os faltosos na administração serão punidos com a proibição de viajar em avião e em trem de alta velocidade.
Aqueles que tenham pendências na Justiça ou dívidas importantes serão atingidos. O veto durará um ano e será emendável.
Em 2017, 6,15 milhões de pessoas foram excluídas desses transportes públicos.
A jovem Pang [nome fictício por segurança] conta:
“fiquei sabendo que não poderia voar quando tentei comprar uma passagem pela internet. Apareceu uma página dizendo que estava na lista negra e que teria que procurar um transporte alternativo”, disse a “El País”de Madri.
Sua única alternativa era um trem que demora mais de 14 horas.
O mais grave é o modo como se cria a lista negra. O pai de Pang não pode pagar um crédito no banco, então a filha foi castigada, malgrado ela tenha obtido um refinanciamento do próprio banco.
A lista negra se irá sofisticando na medida em que se digitalizem ou integrem os diferentes bancos de dados pessoais já existentes.
Segundo o governo, o propósito é “restringir os movimentos e operações daqueles que não são confiáveis”.
As pessoas julgadas “incômodas” pelo regime terão cerceadas suas liberdades mais básicas, segundo denunciou Human Rights Watch.
Não há mecanismo de defesa para os “desqualificados” como Pang.
O Grande Irmão chinês está cada vez mais onipresente e onipotente, conclui “El País”.
O modelo é exportável como a tecnologia chinesa.
E uma nova raça de párias se espalhará pela Terra selecionada e condenada por computadores manipulados pelo Partido Comunista sob o rótulo de “crédito social”.
Alguém poderá dizer que qualquer semelhança com o 666 do Apocalipse não é mera coincidência:
“16. (…) conseguiu que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, tivessem um sinal na mão direita e na fronte,
17. e que ninguém pudesse comprar ou vender, se não fosse marcado com o nome da Fera, ou o número do seu nome” (Apocalipse, 13, 16-17).